O movimento no CHILE continua na luta pelo direito da classe oprimida.
Do site da bbcBrasil
Valderrama.
A tensão aumentou no Chile, três dias antes do encontro marcado pelo presidente do Chile, Sebastián Piñera, com líderes do movimento estudantil.
Piñera convocou os estudantes para uma reunião neste sábado, no palácio presidencial de La Moneda, em Santiago, após a morte do estudante Manuel Gutiérrez Reinoso, 16 anos, na semana passada.
Nesta quarta-feira, no entanto, um grupo de estudantes invadiu o Ministério da Educação, dizendo não se sentir representado pelos que vão se reunir com Piñera.
Eles também pediram "justiça" pela morte do estudante. Após quebrarem vidros do prédio, deixaram o local pacificamente, segundo a imprensa local.
"O Chile não voltará a ser o mesmo depois de tudo o que está acontecendo", disse à BBC Brasil a analista política Marta Lagos, diretora da ONG Latinobarometro.
"A partir do movimento estudantil, a sociedade chilena perdeu o medo de pedir reformas em vários setores e incluindo reformas constitucionais. Começa uma era de mudanças por maior democracia", disse.
Na opinião da analista, o movimento estudantil "abriu as portas para todas as demandas pendentes da sociedade chilena".
Constituição de Pinochet
Muitas das leis em vigor no país ainda são regidas pela Constituição de 1980, promulgada durante o regime do presidente Augusto Pinochet (1973-1990).
"A legitimidade do modelo está em jogo com a mobilização estudantil", diz o analista político Raul Sohr, da TV Chilevisión.
"Desde a Constituição de 1980, aprovada na ditadura, ao sistema de impostos, a desigualdade social e, claro, o sistema educativo."
Acusado de ter matado o estudante, o ex-policial militar Miguel Millacura foi interrogado nesta quarta-feira por um tribunal militar sobre o tiro que matou o Gutiérrez, ao fim de uma jornada de protestos.
"Ele reconheceu que atirou", disse a promotora militar Paola Jofre, diante das câmeras de televisão. Millacura perdeu o cargo e foi detido na véspera, logo após a confirmação de que o tiro que matou o estudante saíra da sua arma.
O caso gerou uma crise na polícia militar chilena, conhecida como Carabineros. Outros sete policiais militares foram obrigados a deixar seus postos e a farda por envolvimento no crime.
Opiniões divididas
A situação dividiu a opinião dos analistas ouvidos pela BBC Brasil.
"Acho que (a morte do estudante) foi um incidente trágico, mas isolado", disse Sohr.
"O que ocorreu foi gravíssimo, mas diante do prestígio desta polícia nacional, não corrupta, é provável que supere este mau momento. Porém, foi grave o fato de terem ocultado a verdade sobre o que ocorreu", disse o analista político Ricardo Israel, do jornal La Tercera.
"Se consegue superar este momento, sairá fortalecida. Se não, precisara de uma reforma profunda."
Para o professor de Ciência Política da Universidade do Chile Guillermo Holzmann, a demissão dos militares protege o ministro do Interior, Rodrigo Hinzpeter, responsável pelas ordens dadas aos policiais.
"São mais de três meses de protestos e de desgaste crescente do governo. E é nesse clima, que inclui o cansaço da sociedade com esta situação, que o governo marcou a reunião com os estudantes", disse Holzmann.
Em votação na Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira, parlamentares rejeitaram a proposta feita pela oposição de acusar Hinzpeter constitucionalmente pelas ordens de reprimir os protestos recentes dos estudantes. Diante do ministro, parlamentares ergueram faixas que pediam sua renúncia.
"A votação confirma o que pediram familiares do estudante (morto), que o episodio não seja politizado", disse Hinzpeter ao deixar o local.
O ex-presidente e opositor Ricardo Lagos disse que "não há como não politizar" as responsabilidades pela morte do estudante.
Ao mesmo tempo, os estudantes reunidos na Confederação dos Estudantes Chilenos (Confech) marcaram nova assembléia para este domingo, um dia depois da reunião que têm agendada com Piñera.
Um novo protesto nacional também foi convocado para a próxima quinta-feira.
"Nossos protestos vão continuar se nossas demandas não forem atendidas, como o acesso gratuito às universidades públicas gratuitas", disse o universitário Patrício Contreras, um dos porta-vozes da Confech.
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